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Make yourself at home

Make yourself at home

Esse é o espirito. Tanto na perspectiva do artista, muito bem acolhido ao vir morar dois meses nos Estados Unidos, para uma completa imersão no processo de produção da sua primeira individual em Nova York, quanto no que se espera do espectador ao adentrar a pequena e aconchegante galeria, repleta de pinturas sobre suportes tão familiares, normalmente encontrados no contexto doméstico. Sintam-se em casa.

Tradicionalmente Bruno Miguel tem como foco a constante reinvenção. No enfrentamento dos tradicionais gêneros da pintura, na relação com o suporte e na busca de técnicas híbridas, mesclando procedimentos acadêmicos com outros descobertos na labuta cotidiana do atelier.

A série “Sala de Jantar”, apropria como suporte para as pinturas, um conjunto de pratos de origens nobres diversas, adquiridos em leilões de antiguidades e antiquários com outros mais populares comprados em brechós do Exército da Salvação nos subúrbios de Newark. Pratos de marcas tradicionais européias, orientais e brasileiros, apresentados em conjunto com marcas populares. Todos com a história adquirida em seus antigos lares, energia e emoções dos quais foram testemunhas passivas durante anos ou décadas.

Para a exposição “Make Yourself at Home”, Bruno utiliza imagens de propagandas vintage norte americanas e de cartões postais. Suas obras são exercícios de um artista viajante que sempre acaba contaminando a experiência da viagem com seu olhar estrangeiro, como na escultura “Quarta-feira de cinzas” em que faz um paralelo entre os oak nuts que caem com a chegada do outono e o confete que fica pelo chão ao fim do carnaval no Brasil.

A construção do campo pictórico como rizoma, pensada nas relações entre natureza morta, paisagem e abstração levantando enfrentamentos entre baixa e alta cultura, numa relação de composição e de fluxos subjetivamente orientada pelos conceitos de Gilles Deleuze e Félix Guattarri.

É com naturalidade que Bruno e outros artistas brasileiros contemporâneos enfrentam sua herança colonial e periférica. Não a negando, mas a usando como trampolim para fugir de um perfil estereotipado de uma “arte dos trópicos” ou “latino-americana”. O Global é natural para esta geração que cresceu nos centros urbanos e sabe filtrar clichês tanto da street art quanto de regionalismos para construir poéticas particulares que sejam contextualizáveis em qualquer centro de arte do mundo.

Benjamin Moreh – curador

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